terça-feira, 21 de julho de 2009

Desaparece mais um capítulo de nossa história - Demolição de casa histórica em Novo Hamburgo (RS)

ATENÇÃO - ESTE ARTIGO NÃO DEVE SER REPRODUZIDOS SEM AUTORIZAÇÃO EXPRESSA.
Após uma verdadeira novela, envolvendo demolição não autorizada, obra embargada e diversas reportagens polêmicas nos jornais, mais uma casa localizada no centro histórico de Hamburgo Velho desaparece completamente sob nossos olhares impassíveis, deixando este importante conjunto cada vez mais desfalcado.
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(O vazio deixado pela demolição da casa histórica. Seu térreo, até então preservado, é intervenção posterior. foto: Jorge Luís Stocker Jr.)
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A casa, apesar das sucessivas reformas recebidas ao longo do tempo, tinha redobrada sua importância por encontrar-se dentro do Centro Histórico de Hamburgo Velho (delimitado pelo Plano Diretor do Município), um dos poucos sítios históricos urbanos referentes à imigração alemã existentes no Estado. Era parte integrante da paisagem urbana do bairro e inevitavelmente, entrava no conceito de conjunto, estando no entorno imediato de outras importantes construções históricas (Casa Kayser, antigo Evangelisches Stift, antiga Bier Garten e Igreja dos Reis Magos).
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Como sempre, as justificativas para demolição foram das mais infundadas, envolvendo "perigo de desabamento nos pedestres", "nenhum valor histórico", "irrelevância para a história da cidade", e até mesmo seu "estado de ruínas".
Pois bem, é impossível exigir que os imóveis históricos mantenham sua integridade e valor econômico após décadas de abandono, falta de manutenção, infiltração e descaso. Todos estes fatores apenas colaboram para a dificuldade de sua preservação, encarecendo ou até inviabilizando uma futura restauração. Estes problemas são fruto apenas do descuido com o próprio bem imóvel, e não uma consequência da antiguidade do bem.
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A espessura de suas paredes, reveladas durante a demolição da casa, revelaram a rigidez estrutural que as empenas mantinham apesar dos anos de abandono e falta de manutenção.
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Acompanhe as diversas fases que a casa passou, antes de sua completa demolição.
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- Em março de 2008, a casa encontrava-se em sua integridade. Apesar disso, eram claros os sinais de abandono observados nas esquadrias e no aparecimento de vegetação, prejudicando a empena. O assoalho de madeira, observável pelo térreo, já encontrava-se inteiramente apodrecido.
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(foto: Elis Regina Berndt)
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- Um ano depois, em março de 2009, já com a platibanda derrubada e telhamento retirado:

(foto: Jorge Luís Stocker Jr.)
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- Telhamento retirado, em abril de 2009. A casa permaneceu assim por meses:

(foto: Elis Regina Berndt)
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- Em Junho de 2009, a demolição foi reiniciada, sendo derrubadas as paredes laterais e todo o telhado. A obra foi embargada quando só restava a fachada frontal, sem resquícios de importância histórica. Nesta época, foram publicadas notícias no jornal da região.

(foto: Elis Regina Berndt)
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- Em 19 de Julho de 2009, com seu volume histórico já completamente demolido.

(foto: Jorge Luís Stocker Jr.)
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E assim termina mais um lamentável capítulo da incansável luta pela valorização e preservação do centro histórico de Novo Hamburgo. Seria completamente insano imaginar que o valor histórico da construção possa ser recuperado com uma reconstrução. Um documento histórico real nunca deve ser trocado por cópias e simulacros.

O enorme potencial cultural e turístico da região continua subutilizado, e como vemos neste caso, desperdiçado por falta de interesse e de informação - e quem sabe, de empreendedorismo por parte dos proprietários.
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Com muitas e tristes perdas nos últimos tempos (incluídas nesse rol as várias casas que foram inteiramente demolidas e reconstruídas em projetos de restauro no mínimo discutíveis - deixando-as comprometidas em seu valor histórico), Hamburgo Velho segue desvalorizada e com seu enorme potencial adormecido. Um tesouro usado como simples corredor de passagem para o crescente fluxo de carros da cidade. E infelizmente continuará assim, enquanto o "ranço" e o clima de má vontade e discórdia entre os diversos movimentos sociais e políticos interessados no bairro permanecer.
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Igreja dos Reis Magos agora destaca-se na Rua Maurício Cardoso. (foto: Jorge Luís Stocker Jr.)
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Este vazio urbano deixado pela demolição da casa histórica nos revela uma visual inédita da igreja dos Reis Magos, recentemente reinaugurada inteiramente restaurada. O projeto foi executado com recursos próprios da comunidade evangélica, que lutou por verbas sem nenhum apoio de leis de incentivo à cultura ou outros programas estatais, por não ser um bem tombado. Com esse episódio triste, temos a possibilidade de ver triunfar uma esperança logo atrás deste e de outros episódios lamentáveis!
ESTE ARTIGO NÃO PODE SER REPRODUZIDO SEM AUTORIZAÇÃO EXPRESSA.
Texto: Jorge Luís Stocker Jr
Fotos:
Elis Regina Berndt e Jorge Luís Stocker Jr.

ATENÇÃO - ESTE ARTIGO NÃO DEVE SER REPRODUZIDOS SEM AUTORIZAÇÃO EXPRESSA.

Leia também:
- Matérias publicadas na DEFENDER, extraídas do Jornal NH, a respeito da casa histórica: [1 | 2]

7 comentários:

  1. olá...sou estudante do curso Gestao do patrimonio na EScola Superior de Educaçao do Porto (Portugal) e gostaria de saber se nao estaria interessado em fazer um post acerca da degradaçao do patrimonio da sua regiao com o intuito de o publicar no novo blog que pretendo formar acerca do patrimonio e das más praticas de conservaçao...se estiver interessado deixe uma resposta no meu blog no post, "procuro ajuda" e cederei o meu email para enviar o seu texto e fotos.
    agradecia uma resposta...
    Abraços

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  2. Triste. Mas a desvalorização por parte dos órgãos públicos é mero reflexo da indiferença por parte do povo. O cidadão não possui conhecimento sobre a casa que ele passa todo dia, ele olha e o que consegue perceber é que ela é velha. Então se a casa não for um enxaimel chamativo, ninguém dá valor por não conhecer a linguagem igualmente importante que outros traços arquitetônicos possam ter.

    No turismo, o valor estétio vence o histórico-cultural, como vemos no sucesso de Gramado-Canela e Campos do Jordão.

    Infelizmente, é assim que é. Não são os donos do imóvel ou a prefeitura que derruba o patrimônio, é toda a sociedade conivente.

    Parabéns pelo manifesto. Eu acho que só faltou alguma análise técnica sobre os elementos da casa, data, importância histórica.

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  3. Mais uma...
    O pior é saber que é só mais uma.
    E depois querem "revitalizar" Hamburgo Velho.

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  4. o artigo serviria para mostrar que os problemas com o patrimonio nao é unico de portugal mas sim um problema global...envia o artigo acompanhado de fotos para o email arroz_cigala@hotmail.com
    Obrigado pela ajuda...
    abraços

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  5. Parabéns pelo texto, pela indignação e pelo registro. O leitor Fernando Schultz bem disse que não são somente os donos que derrubam o imóvel e sim "toda a sociedade conivente".
    Sou otimista e vejo que, apesar dos pesares, hoje o assunto "Patrimônio Histórico" é bem mais discutido e já faz parte das pautas mais populares. A sociedade, cada vez mais, está tomando as rédeas daquilo que lhe é de direito. Parabéns!

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  6. quer fazer parceria com meu blog? :D
    aguardo.

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  7. Nossa, faz um ano que eu não vou mais pra Nóia... Eu lembro desta casa...

    =(

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