Podemos comemorar o nosso legado missioneiro, muito bem expresso pelas ruínas de São Miguel Arcanjo, declaradas patrimônio da humanidade pela UNESCO. Além delas, as dezenas de imagens religiosas esculpidas pelos índios catequizados e pelos jesuítas que nosso Estado ainda abriga .
Uma das imagens missioneiras em exposição permanente no Museu Júlio de Castilhos, em Porto Alegre (RS). (foto: Jorge Luís Stocker Jr./2009)
Comemoremos, quem sabe, a imigração açoriana que completará 260 anos em 2012. Crucial para nossa identidade enquanto gaúchos, nos legou cidades históricas como Triunfo, Santo Amaro, Pelotas, Rio Pardo e tantas outras, que até hoje guardam em suas ruas a história
deste povo tão simples, receptivo e acolhedor.
Um pouco do cotidiano tranquilo da Vila de Santo Amaro, em General Câmara (RS). (foto: Jorge Luís Stocker Jr/2008)
Casarão Mendonça, em Pelotas (RS). (foto: Jorge Luís Stocker Jr./2011)
Um pouco do conjunto histórico colonial de Triunfo (RS). (foto: Elis Regina Berndt/2008)
E o que dizer do expressivo contingente de imigrantes alemães que aqui se instalaram, a partir de 1824, na colônia imperial de São Leopoldo e posteriormente, espalharam-se por colônias particulares em todo a extensão do Rio Grande do Sul? Nosso estado abriga lugares de memória inigualáveis, como o conjunto histórico de Ivoti (RS), o conhecido Buraco do Diabo, tombado pelo IPHAN, compreendendo a Ponte do Imperador e o núcleo de casas enxaimel; e o conjunto urbano de Dois Irmãos (RS), com suas dezenas de casas históricas devidamente tombadas pela Prefeitura Municipal. E não esqueçamos a Casa Schmitt-Presser, de Novo Hamburgo, primeira residência enxaimel tombada pelo IPHAN. Fantástico exemplar de arquitetura nesta técnica construtiva.
Casa Schmitt-Presser, primeiro enxaimel tombado pelo IPHAN nos anos 80. (Foto: Jorge Luís Stocker Jr./2010)
A Av. São Miguel, de Dois Irmãos (RS), apresenta uma série de casas históricas. É bastante significativa a quantidade de bens tombados pela municipalidade nesta via. (foto: Jorge Luís Stocker Jr./2009)
E como esquecer os imigrantes italianos, aqueles que enfrentaram os terrenos íngremes e hostis da serra gaúcha, a partir de 1870? Esta imigração nos legou um pujante setor vitivinicultor, de qualidade reconhecida internacionalmente. Indispensável lembrar a bela Antônio Prado, patrimônio nacional pelo IPHAN com suas dezenas de casarões centenários de madeira, e a recentemente tombada Santa Tereza, não por conta do valor de alguns bens históricos em particular, mas pelo conjunto harmônico que compõe sua paisagem cultural típica.
E como esquecer os imigrantes italianos, aqueles que enfrentaram os terrenos íngremes e hostis da serra gaúcha, a partir de 1870? Esta imigração nos legou um pujante setor vitivinicultor, de qualidade reconhecida internacionalmente. Indispensável lembrar a bela Antônio Prado, patrimônio nacional pelo IPHAN com suas dezenas de casarões centenários de madeira, e a recentemente tombada Santa Tereza, não por conta do valor de alguns bens históricos em particular, mas pelo conjunto harmônico que compõe sua paisagem cultural típica.
Os casarões típicos de Antônio Prado (RS). (foto gentilmente cedida por Rene Hass).
E as imigrações polonesa, judaica, pomerana, e a população afro-descendente, que tanto moldaram nossa cultura? Entre tantas influências, eis o povo gaúcho. Representado não apenas aquele cidadão pilchado com a vestimenta fetichizada pelo MTG, mas por todos cidadãos
destas terras ao sul do Brasil, onde muitas culturas vieram somar sua contribuição a um todo que ainda pulsa e vibra.
Temos muito a comemorar, sim.
Mas infelizmente, nossa comemoração será limitada. Pois aos poucos, estes motivos para comemoração vão se esvaindo. O ritmo com que nossa diversidade cultural é valorizada ainda não acompanha, nem de longe, a velocidade com que bens insubstituíveis vão desaparecendo do nosso imaginário e das nossas cidades.
A educação patrimonial ainda é incipiente. Ofegante, corre para deter a fúria do mercado imobiliário, que deseduca e atropela diariamente referências culturais sem deixar rastros. Não consegue, e nunca vencerá sozinha e a tempo esta luta inglória.
A comemoração é, portanto, feita com tristeza e esperança.
Esperança de que, algum dia, finalmente a Prefeitura Municipal de Campo Bom (RS) reconheça a importância de sua história. Que o primeiro cemitério da imigração alemã construído no Rio Grande do Sul, hoje em ruínas, venha a ser valorizado, em reconhecimento aos imigrantes alemães ali enterrados nos primeiros anos da colonização. Que seja tombado o templo evangélico, por sua importância como marco urbano na paisagem já tão descaracterizada.
E as imigrações polonesa, judaica, pomerana, e a população afro-descendente, que tanto moldaram nossa cultura? Entre tantas influências, eis o povo gaúcho. Representado não apenas aquele cidadão pilchado com a vestimenta fetichizada pelo MTG, mas por todos cidadãos
destas terras ao sul do Brasil, onde muitas culturas vieram somar sua contribuição a um todo que ainda pulsa e vibra.
Temos muito a comemorar, sim.
Mas infelizmente, nossa comemoração será limitada. Pois aos poucos, estes motivos para comemoração vão se esvaindo. O ritmo com que nossa diversidade cultural é valorizada ainda não acompanha, nem de longe, a velocidade com que bens insubstituíveis vão desaparecendo do nosso imaginário e das nossas cidades.
A educação patrimonial ainda é incipiente. Ofegante, corre para deter a fúria do mercado imobiliário, que deseduca e atropela diariamente referências culturais sem deixar rastros. Não consegue, e nunca vencerá sozinha e a tempo esta luta inglória.
A comemoração é, portanto, feita com tristeza e esperança.
Esperança de que, algum dia, finalmente a Prefeitura Municipal de Campo Bom (RS) reconheça a importância de sua história. Que o primeiro cemitério da imigração alemã construído no Rio Grande do Sul, hoje em ruínas, venha a ser valorizado, em reconhecimento aos imigrantes alemães ali enterrados nos primeiros anos da colonização. Que seja tombado o templo evangélico, por sua importância como marco urbano na paisagem já tão descaracterizada.
Lápides de valor inestimável estão abandonadas e sujeitas a depredação em Campo Bom (RS). (foto: Jorge Luís Stocker Jr./2009)
... de que o centro histórico de Hamburgo Velho, no entorno imediato da Casa Schmitt-Presser, venha um dia a ser devidamente oficializado e tombado como sítio histórico. Que deixe de ser um corredor de passagem do trânsito em um bairro fantasma, que volte a ter vida, a pulsar cultura. Que receba um mobiliário urbano adequado à sua importância.
... de que o centro histórico de Hamburgo Velho, no entorno imediato da Casa Schmitt-Presser, venha um dia a ser devidamente oficializado e tombado como sítio histórico. Que deixe de ser um corredor de passagem do trânsito em um bairro fantasma, que volte a ter vida, a pulsar cultura. Que receba um mobiliário urbano adequado à sua importância.
A Casa Kayser, enxaimel, e o antigo Evangelisches Stift/Lar da Menina, tombado e arruinado; em Hamburgo Velho, bairro de Novo Hamburgo (RS). (Foto: Jorge Luís Stocker Jr./2011)
... que Ivoti se conscientize de que não é saudável relegar apenas ao núcleo de casas enxaimel tombado o papel de representar sua história. Uma série de residências e prédios históricos ainda pedem socorro pela Av. Presidente Lucena, outros muitos já sumiram, com autorização da própria administração. Outros, apesar de tombados pela municipalidade, correm o risco de perder sua ambientação devido a intervenções grosseiras no seu entorno.
... que Ivoti se conscientize de que não é saudável relegar apenas ao núcleo de casas enxaimel tombado o papel de representar sua história. Uma série de residências e prédios históricos ainda pedem socorro pela Av. Presidente Lucena, outros muitos já sumiram, com autorização da própria administração. Outros, apesar de tombados pela municipalidade, correm o risco de perder sua ambientação devido a intervenções grosseiras no seu entorno.
Um dos remanescentes conjuntos na Av. Predidente Lucena, de Ivoti, a cada dia mais descaracterizada, com incentivo de um plano diretor permissivo e a valorização apenas do núcleo histórico afastado e desvinculado da malha urbana. (foto: Jorge Luís Stocker Jr./2007)
...Enfim, as tristezas são várias, mas as esperanças são muitas. Enquanto o futuro é apenas esperança, vamos continuar desempenhando nosso humilde papel, que é utilizar a ferramenta que temos em mãos (internet) para divulgar e problematizar a continuidade do patrimônio cultural.
“Só a democracia participativa, aliada à informações e educação, poderá assegurar que as escolhas certas serão utilizadas”
(Jacques Dalibard)
A população precisa estar preparada e munida de informação para exercer sua cidadania. Dadas as condições atuais, no deserto em que predomina apenas a (des)educação promovida pelo mercado imobiliário, é impossível esperar engajamento social nesta luta.
Parabéns, patrimônio cultural gaúcho.
...de que São Leopoldo faça jus ao título recebido oficialmente em 2010, de Berço da Imigração Alemã no Brasil, e valorize as migalhas que sobraram de seu centro histórico realizando um inventário completo e digno. Que enfim, não aconteçam mais casos alarmantes como a infeliz construção do novo centro admnistrativo, que tristemente, segue em andamento, juntamente com a erradicação autorizada dos últimos bens culturais ao longo da rua Grande/ Independência.
Construção em andamento, substituindo um prédio Art Déco (link) que fazia conjunto com o remanescente que ainda aparece à esquerda. (foto: Jorge Luís Stocker Jr./2011).
... de que a cidade de Ilópolis saiba dar prosseguimentos à ação desencadeada pelo Museu do Pão, e agilize-se para valorizar os últimos casarões autênticos que ainda guarda em seu território urbano. Eles não são apenas velhos casarões de madeira italianos, e vão bem além de potencial turístico. Eles são parte da história da população local, e sem elas, a cidade perderá seu significado.
... de que a cidade de Ilópolis saiba dar prosseguimentos à ação desencadeada pelo Museu do Pão, e agilize-se para valorizar os últimos casarões autênticos que ainda guarda em seu território urbano. Eles não são apenas velhos casarões de madeira italianos, e vão bem além de potencial turístico. Eles são parte da história da população local, e sem elas, a cidade perderá seu significado.
Um dos casarões restantes na área central de Ilópolis (RS), que ainda não contam com nenhum tipo de proteção. (Foto: Elis Regina Berndt, 2008).
... de que a nossa capital Porto Alegre dê atenção especial ao seu centro histórico, tirando do abandono e depredação bens importantíssimos como o Viaduto Otávio Rocha, tombado. Mas que também não siga permitindo a demolição de bens históricos valendo-se de critérios exclusivistas e que não levam em conta a diversidade e a inserção das edificações em um conjunto.
E assim poderíamos citar uma infinidade de casos que clamam por atenção e por uma solução.
... de que a nossa capital Porto Alegre dê atenção especial ao seu centro histórico, tirando do abandono e depredação bens importantíssimos como o Viaduto Otávio Rocha, tombado. Mas que também não siga permitindo a demolição de bens históricos valendo-se de critérios exclusivistas e que não levam em conta a diversidade e a inserção das edificações em um conjunto.
E assim poderíamos citar uma infinidade de casos que clamam por atenção e por uma solução.
Viaduto Otávio Rocha, tombado, agoniza em Porto Alegre (RS). (foto: Jorge Luís Stocker Jr./2010).
...Enfim, as tristezas são várias, mas as esperanças são muitas. Enquanto o futuro é apenas esperança, vamos continuar desempenhando nosso humilde papel, que é utilizar a ferramenta que temos em mãos (internet) para divulgar e problematizar a continuidade do patrimônio cultural.
“Só a democracia participativa, aliada à informações e educação, poderá assegurar que as escolhas certas serão utilizadas”
(Jacques Dalibard)
A população precisa estar preparada e munida de informação para exercer sua cidadania. Dadas as condições atuais, no deserto em que predomina apenas a (des)educação promovida pelo mercado imobiliário, é impossível esperar engajamento social nesta luta.
Os problemas existem, mas precisam ser divulgados para que sejam solucionados. O patrimônio precisa ser, enfim, visto para ser apropriado pela população.
Parabéns, patrimônio cultural gaúcho.
Jorge Luís Stocker Jr.
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Veja também:
Protesto organizado pela Defender em Porto Alegre, marcando o dia Nacional do Patrimônio Cultural:
[ vídeo | notícia 1 | notícia 2 | notícia 3]
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Protesto organizado pela Defender em Porto Alegre, marcando o dia Nacional do Patrimônio Cultural:
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Dos locais descritos o único que vejo seguidamente é o de Hamburgo Velho quando estou em visita à minha filha. É caminho dela do Hospital Regina para casa. Sempre se passa rapidamente, mas emociona e dói ver aquelas construções deteriorando.
ResponderExcluirMais uma vez, parabéns pelo blog e preocupação com nossa história.
Abraço, Beth.
Quanto coisa bacana. Vamos ver até quando as pessoas vão olhar para a historia arquitetônica e achar que tudo não passa de velharia.
ResponderExcluirO casarão da segunda foto não é o casarão Mendonça; o mesmo, remanescente em estilo colonial, encontra-se atualmente em ruínas.
ResponderExcluirUma pena, pois pela antiguidade, tem mais valor histórico que muitos casarões ecléticos mais vistosos.
Porque e importante preservar as casas em estilo enxamel qual importancia?
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