segunda-feira, 16 de março de 2009

Apresentando... Santa Maria do Herval (RS)

ATENÇÃO - ESTE ARTIGO NÃO DEVE SER REPRODUZIDOS SEM AUTORIZAÇÃO EXPRESSA.
Em busca da história da imigração alemã no Rio Grande do Sul, o turista mais desavisado pode acabar no centro de Gramado, admirando prédios construídos a menos de uma década em estrutura de concreto. Já na pequena cidade vizinha, Santa Maria do Herval, a história se mostra teimosamente preservada – apesar de não haver nenhum dispositivo legal pela proteção do patrimônio.
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A tranquilidade de um domingo em Santa Maria do Herval, chamada de Teewald no dialeto local(foto: Jorge Luís Stocker Jr)
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Santa Maria do Herval está incluída na Rota Romântica. Apesar disso, não conta com qualquer estrutura turística. Pontos de interesse existem: são diversas casas enxaimel originais espalhadas pelo município e suas localidades. O problema, porém, é o de sempre. Não existe vontade política para efetivar o tombamento, ou para motivar a revitalização e restauro dessas construções.
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Casa de comércio, num estilo eclético típico da imigração alemã. O fechamento dos vãos seria facilmente reversível, num programa de revitalização dos prédios históricos. (Foto: Jorge Luís Stocker Jr.)
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Isso, trocando em miúdos, mostra o despreparo da cidade em receber turismo e mesmo em preservar seu aspecto de cidade histórica da imigração alemã. Hoje, o turista pode passear por lá e se encantar com as casas em técnica enxaimel originais da imigração. Porém, quando voltar trazendo alguém junto para ver, pode não mais encontrar as mesmas construções. Afinal, nada garante a sobrevivência desse patrimônio.
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Caso interessante de residência em técnica enxaimel (rebocada), e anexo em alvenaria com telhado de quatro águas (Foto: Elis Regina Berndt)
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Apesar disso, a cidade preserva em sua área urbana alguns interessantes exemplares, a grande maioria tendo ainda hoje uso residencial. É interessante ver essas casas centenárias sendo utilizadas normalmente até hoje. Felizmente, não há na área urbana nenhuma casa abandonada.
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Casinha enxaimel com uso residencial, na área urbana do município. (Foto: Elis Regina Berndt)
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O dialeto Hunsrückisch
O mais interessante, porém, é o patrimônio imaterial do local. A língua oficial parece ser o dialeto Hunsrückisch (relativo a região do Hunsrick, de onde vieram os imigrantes alemães que se estabeleceram neste local a partir de 1854). É muito interessante caminhar pelo local e ver conversas em alemão dialeto acontecendo aqui e ali, algo em extinção nas antigas colônias mais desenvolvidas nos dias atuais, como Novo Hamburgo.
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Conjunto enxaimel construído em duas etapas, com uso residencial. (foto: Elis Regina Berndt)

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Divertido também, é entrar nas casas de comércio da região. Tudo que você perguntar, será provavelmente respondido em alemão, até que você informe que não domina o dialeto. Apesar de muito desconfiadas, após apresentações as pessoas se tornam muito receptivas.
Os olhares curiosos são frequentes, já que a quantidade de turistas que passam pela cidade ainda é quase nula, e os poucos que passam por ali dificilmente descem do carro para conhecer melhor o local.
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Relíquias Históricas

As duas grandes relíquias históricas da cidade são a Igreja de Nossa Senhora Auxiliadora, e o casarão enxaimel que abriga o Museu Histórico da cidade.
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A igreja de Nossa Senhora Auxiliadora destacando-se na paisagem local (Foto: Elis Regina Berndt )
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A igreja foi construída em 1909 e complementada em 1935, no belíssimo estilo neogótico. A impressão é de realmente estar visitando um templo na Alemanha rural, tal a precisão e o cuidado com o uso das formas históricas. A surpresa fica por conta do interior, onde se teve o cuidado de construir naves laterais e falsas abóbadas. As inscrições em alemão ajudam a construir este clima.
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O interior da igreja. Numa das abóbadas, lê-se a inscrição em alemão “Maria Mit Dem Kinde Liebe Uns Allen Deinen Segen Gibt” (Foto: Elis Regina Berndt)
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Destaca-se ainda o trabalho de marcenaria dos altares e púlpito, também com formas neogóticas. Nos altares, encontram-se três imagens trazidas de Munique (Alemanha), em 1870.
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Museu Municipal (foto: Jorge Luís Stocker Jr)
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Já na entrada da cidade, um casarão antigo chama atenção na paisagem da cidade. Trata-se do Museu Histórico Municipal, instalado no antigo casarão construído totalmente em técnica enxaimel de influência vestfaliana.
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Texto: Jorge Luís Stocker Jr.
Imagens: Elis Regina Berndt e Jorge Luís Stocker Jr.
Informações e imagens referentes a visita feita em 30.08.08.

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Leia também
História da Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Enxaimel em Hamburgo Velho

Apresentando... O Centro Histórico de Hamburgo Velho (Parte 2)
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Após a introdução histórica da parte I, seguimos agora apresentando o centro histórico de Novo Hamburgo, o bairro Hamburgo Velho.
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Hamburgo Velho em 1910. (Fonte: Enciclopédia Rio-Grandense)
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A técnica enxaimel
O enxaimel é uma técnica construtiva que consiste na montagem de uma estrutura independente de madeiras encaixadas – sem uso de pregos. O conhecimento construtivo veio com os imigrantes alemães, e foi aqui adaptado às necessidades e materiais encontrados na região.

Casa Schimitt-Presser, e a Fundação Scheffel em segundo plano (foto: Jorge Luís Stocker Jr.).
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As casas enxaimel foram construídas nos primórdios da colonização, consistindo na primeira forma de habitação definitiva. Mais tarde, a técnica seria substituída pelas construções de alvenaria no estilo eclético.
No bairro Hamburgo Velho, ainda hoje encontramos três exemplares desta técnica.
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Casa Schmitt-Presser
O mais importante exemplar de enxaimel de Hamburgo Velho, foi o primeiro representante desta técnica tombado pelo IPHAN. É possível observar que as vigas de madeira utilizadas na estrutura foram falquejadas de maneira rudimentar.
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Viga falquejada na casa Schimitt-Presser(foto: Jorge Luís Stocker Jr.).
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A Casa Schmitt-Presser abrigava o importante entreposto comercial citado no primeiro texto da série, devido a sua excelente localização.
Abriga hoje um museu, com acervo relativo à imigração alemã.
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Casa Kayser

Casa Kayser em 2009, depredada (foto: Elis Regina Berndt)
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Sobrado construído em enxaimel, apesar de ter sido inteiramente rebocado, com acréscimo inclusive de um friso na fachada. Ainda é possível observar a marcação das vigas de madeira pelo reboco nas laterais e fundos.
Seu interior ainda é bastante original, contando com mobiliário da padaria que já funcionou no local.
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Fundos da Casa Kayser, onde aparecem as vigas através do reboco. Ao fundo, a Igreja dos Reis Magos (IECLB) e ao lado, ruínas do Evangelische Stift (foto: Jorge Luís Stocker Jr.).
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Infelizmente, apesar de sua importância como exemplar da técnica, a casa não é tombada a nenhum nível. Encontra-se desocupada desde o falecimento dos proprietários. Suas esquadrias estão em avançada degradação.
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Esquadria degradada na casa Kayser (foto: Elis Regina Berndt)
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É inegável seu potencial para atividades culturais, ou até mesmo um museu, devido ao seu relativo bom estado de conservação do mobiliário original.

Casa Ody
Havia no local um importante exemplar de enxaimel, datado provavelmente de 1850. Infelizmente foi demolido e reconstruído com materiais atuais, um equívoco comum em algumas das “restaurações” realizadas no bairro.
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A casa Ody original, nos anos 90. Foto cedida por Paulo Dias Nunes.



A réplica construída no local (foto: Jorge Luís Stocker Jr.).
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O bairro perdeu assim um interessante exemplar de arquitetura vernacular, recebendo em substituição, uma lamentável réplica. Espera-se que este não seja o triste destino da Casa Kayser.

Texto: Jorge Luís Stocker Jr.

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Leia também

- Arquitetura da Imigração Alemã no Brasil (livro)- Arq. Günter Weimer

- Uma Venda Alemã - matéria sobre a Casa Schimitt-Presser

segunda-feira, 2 de março de 2009

Apresentando ... O Centro Histórico Hamburgo Velho

O bairro Hamburgo Velho, de Novo Hamburgo (RS), preserva um importante conjunto histórico. Nesta série, faremos um diagnóstico do que encontramos de mais interessante no bairro, listando os principais acertos e também os problemas que impedem o seu desenvolvimento turístico e cultural.
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Foto mostrando o centro histórico de Hamburgo Velho nos anos 60 (foto: Brayer).

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A cidade de Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, teve sua origem no local inicialmente conhecido como Hamburgerberg. Com o advento da viação férrea, a cidade acabou se desenvolvendo um pouco mais distante da sua origem, deixando o bairro em segundo plano.
Este período de “decadência” foi importante para a preservação das características mais marcantes de Hamburgo Velho, apesar de ser responsável também pela sua desvalorização. O bairro foi tirado do cotidiano e da dinâmica da cidade, ficando cada vez mais isolado do dia-a-dia da população. Apesar de algumas poucas, porém importantes, ações isoladas em prol de sua valorização, o desprezo geral pelo centro histórico perdura até hoje.
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Origem
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O local teria ficado conhecido por “Hamburgerberg”, devido ao primeiro comerciante a se instalar naquela elevação ter vindo da cidade de Hamburgo, na Alemanha. O nome de “morro dos hamburguenses” (entenda-se – "morro daqueles de Hamburgo"), portanto, não tem nenhuma intenção em homenagear a cidade alemã.
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A ocupação teve início em 1824, com a chegada dos imigrantes alemães. Em pouco tempo, o local já era um importante entreposto comercial, situado em posição privilegiada em relação às rotas de ligação entre as regiões. A atual Rua General Daltro Filho fazia parte do caminho que ligava São Leopoldo à estrada da Serra (passando por Campo Bom, Leonorhoff (Sapiranga), Taquara e demais colônias), e a atual Rua Marquês de Souza, fazia a ligação com Baumschneis (atual Dois Irmãos) e demais colônias. No ponto de convergência destes dois caminhos, encontrava-se uma importante casa comercial, construção enxaimel ainda existente e onde hoje encontramos o Museu Comunitário Casa Schimitt-Presser.
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Museu Comunitário Casa Schimitt-Presser, importante ponto de referência histórica tombado pelo IPHAN, e Fundação Scheffel em segundo plano (foto: Elis Regina Berndt).
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O advento da viação ferroviária viria mudar esse quadro. Por falta de recursos, a The Porto Alegre and New Hamburg Brazilian Railway inaugurou a primeira estação a alguns quilômetros de distância do núcleo Hamburgerberg. Foi o impulso para o desenvolvimento do município naquela direção, levando o comércio e desenvolvimento ao local que seria batizado de “New Hamburg” pelos ingleses da empresa ferroviária. Neste local, hoje encontra-se a área central da cidade, tendo antigo núcleo recebido a alcunha de “Hamburgo Velho”. A linha passaria mais tarde à administração da VFRGS e seria extendida até Canela.
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Vista da Rua General Daltro Filho, no centro histórico (foto: Jorge Luís Stocker Jr.).

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Com o objetivo de valorizar este importante centro histórico, estaremos apresentando nas próximas atualizações os atrativos que o bairro tem a oferecer aos seus visitantes e população hoje, apontando também seus principais problemas. Pretendemos assim aumentar a quantidade de informações a respeito do bairro existentes hoje na internet – que ainda é bastante modesta – e fomentar a discussão a respeito de ações que devem ser feitas para que o bairro seja reintegrado a vida cultural da população em geral.
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Texto: Jorge Luís Stocker Jr.

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Veja também:
- "Novo Hamburgo", de Leopoldo Petry [livro - fora de catálogo] - Monografia sobre Novo Hamburgo. Apesar de em alguns aspectos desatualizada, é a obra mais importante já publicada sobre a cidade. Serviu de referência para alguns dados deste artigo.

- Informações sobre a Estação Ferroviária New Hamburg e Hamburgo-Berg.

- Fotos de Novo Hamburgo no Flickr [1] [2]

- Novo Hamburgo no fórum SkyscraperCity.

- A cidade no Panorâmio.