quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009
Um pedacinho das missões em Porto Alegre
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Uma pequena parte da história das missões jesuíticas na América do Sul pode ser visitada bem longe dos sítios arqueológicos - no centro da capital gaúcha.
Trata-se da "Sala Missioneira", compartimento do Museu Júlio de Castilhos. Lá encontra-se em exposição permanente esculturas esculpidas em madeira pelos catequizadores e pelos índios guaranis.
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Nossa Senhora da Conceição com feições indígenas
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A arte Missioneira tem sua raiz em movimentos artísticos europeus (Renascimento e principalmente o Barroco). Mas vão além de ser mera reprodução estrangeira: o pitoresco fica por conta das feições indígenas atribuídas às figuras religiosas (destaca-se neste quesito a imagem de Nossa Senhora da Conceição) e também ao conteúdo profano, revelando integração com a natureza (destacando-se o curioso banco zoomorfo).
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Banco zoomorfo, acervo do Museu Júlio de Castilhos
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Outra curiosidade fica por conta dos compartimentos esculpidos na parte de trás de algumas imagens. Este espaço serviria para os Jesuítas depositarem suas riquezas a salvo dos constantes saques - e também para facilitar a secagem da madeira, evitando que as peças rachassem. Esse tipo de compartimento - que pode ser observado na imagem de 1,87m de altura de São Francisco Xavier - deu origem à expressão "santo do pau oco".
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Há de curioso ainda, o uso de imagens articuladas. Supõe-se que serviriam para encenações. No Museu, encontramos a imagem esculpida de uma anta, com a cabeça articulada. Entende-se, pela simplicidade das formas, que tenha sido esculpida inteiramente por um índio guarani catequizado.
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O Museu Júlio de Castilhos fica próximo à Catedral Metropolitana de Porto Alegre, na Rua Duque de Caxias, 1205.
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Texto: Jorge Luís Stocker Jr.
Imagens: Elis Regina Berndt
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Leia também:
- Site do Museu Júlio de Castilhos, com imagens e descrição completa do acervo
- Conteúdo completo sobre as Missões
- Breviário das Terras do Brasil - Luiz Antonio de Assis Brasil (romance) - Conta a história de um índigena missioneiro resgatado de uma tempestade. Levado ao Rio de Janeiro, é julgado pelo Tribunal da Inquisição devido às feições indígenas esculpidas em suas imagens sacras.
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009
Museu de Pão em Ilópolis (RS) mostra que é possível aliar seriedade e desenvolvimento turístico
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O Museu do Pão, situado na pequena cidadezinha de Ilópolis, no Vale do Alto Taquari no Rio Grande do Sul, é o primeiro passo para a implantação do “Caminho dos Moinhos” – Rota turística que busca resgatar a memória da imigração italiana através da revitalização dos moinhos da região.
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O turismo cultural em cidades ainda não turísticas normalmente não é levado muito a sério. Temos no Rio Grande do Sul vários exemplos de cidades com um potencial enorme inexplorado - e ainda constantes casos de cidades que destroem seu potencial cultural para dar lugar a uma cidade “genérica” e sem atrativos, ou então à invenção de identidades culturais que não retratam propriamente a realidade histórica. A Associação dos Amigos dos Moinhos demonstrou um perfeito senso de profissionalismo e bom senso neste sentido.
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O Moinho
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O Moinho Colognese localiza-se no centro de Ilópolis. Foi construído em 1920. [Os moinhos tem importância no contexto da imigração italiana no Rio Grande do Sul, pois simbolizam a decisão dos imigrantes italianos de permanecerem no novo mundo, construindo aqui o maquinário para manufaturar sua alimentação.]. A edificação ficou por muitos anos em estado de abandono, porém sempre conservou intacto seu maquinário interno.
A restauração do Moinho fez-se mais do que necessária. Afinal, se trata de um dos poucos exemplares existentes dessa tipologia única no mundo - os moinhos de madeira construídos pelos imigrantes italianos. Torna-se assim um forte atrativo cultural: pela oportunidade de presenciar um moinho em pleno funcionamento, e também pelo link com a imigração italiana.
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Quando o prédio contemporâneo completa o patrimônio existente
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O Museu do Pão é um exemplo muito feliz de intervenção em área histórica. O prédio é de uma simplicidade e despretenciosidade capazes de torná-lo praticamente “normal” para olhos não acostumados a apreciar arquitetura. É na sutileza dos detalhes do projeto que se encontra seu valor.
O prédio não tira o foco do moinho: antes, o valoriza. Os panos de vidro e os percursos criados dão recursos para que se aprecie o moinho de todos os ângulos possíveis no terreno: coisa que seria improvável sem a existência dos anexos.
O moinho desponta na paisagem de Ilópolis com sua volumetria simples e inconfundível. O Museu do Pão e a Oficina contentam-se em sua posição de coadjuvantes, não com menor importância, mas com a dignidade do novo que respeita o antigo.
São muitas as pecualiridades do projeto, que fizeram com que merecesse destaque nas revistas aU e Projeto e Design no começo do ano.
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Desenho do projeto [escritório Brasil Arquitetura.]
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O uso dos três pilares nada convencionais sustentando a laje superior demonstram uma criatividade bem aplicada, tendo sido usado como referência um pilar de madeira interno do moinho. Esta resolução estrutural é um dos maiores destaques do volume do museu.
Além disso, a textura deixada em todos os fechamentos pela forma de madeira usada para a concretagem, harmoniza perfeitamente com a madeira do moinho. Como bem definiu o arquiteto Álvaro Siza [arquiteto português, autor do projeto da fundação Iberê Camargo em Porto Alegre] quando conheceu o projeto, ele é “uma celebração a madeira”.
O projeto conta ainda com painéis de madeira móveis, que com o tempo deverão adquirir a mesma coloração que o Moinho, tornando-se assim ainda mais harmônica a convivência.
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Outros atrativos culturais históricos de Ilópolis
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O conjunto formado pelo Moinho, Museu do Pão e Oficina de Panificação é completado pela vista do Santuário de São Paulo Apóstolo. O pequeno templo se destaca na cidade, devido a sua posição em um terreno mais alto. Seu interior não deve ser levado a sério como arquitetura histórica por ser intervenção recente, mas é feliz em inspirar o sentimento religioso.
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Existem ainda inteiras três edificações em madeira com lambrequins de madeira, sem a mesma concentração e ambientação original como em Antônio Prado, mas de inegável valor. Duas delas necessitam urgentemente de restauro – talvez com o desenvolvimento turístico do município, essas últimas três edificações possam ser resgatadas, não tendo o mesmo fim de outras que já foram destruídas.
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Texto e fotos: Jorge Luís Stocker Jr.
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Veja também:
- Vídeo da viagem da ASAEC/NH para Ilópolis (RS)
- Site oficial do Caminho dos Moinhos
- Vídeo sobre o Museu do Pão
Die Zeit!
Depois de muito tempo planejando, finalmente o blog entra no ar!
A proposta e temática deste blog é bastante ampla: primeiramente, valorizar o patrimônio histórico das cidades do Rio Grande do Sul, debatendo os meios e motivos para preservá-lo, apresentando bons e maus exemplos de referência.
Ao mesmo tempo, será apresentado o que existe de interessante nas cidades - o que há de relevante arquitetonicamente ou culturalmente falando, e mesmo textos voltados à discussão da arquitetura.
Tudo isso sem o descompromisso comum em sites voltados à apresentação turística, que algumas vezes fornecem informações equivocadas ou incompletas; com uma linguagem mais acessível que os blogs de arquitetura.
A intenção inicial foi a criação de um site (com domínio próprio) a respeito da imigração alemã no Rio Grande do Sul. A idéia se expandiu da sua intenção inicial, mas temporariamente ficará comportada num blog. E dependendo do andar deste blog, talvez o site possa sair quando for o momento!
Agradeço desde já a todos que acompanharem o blog e a todos que apoiaram a idéia!
Aproveito para adiantar que a atualização deverá ser, no mínimo, semanal.
Abraços e até o próximo post.