Detalhe da Residência de Frederico Guilherme Jung, projeto de 1905 atribuído ao Arq. Hermann Otto Menchen. Um peculiar exemplar eclético com características neogóticas, completamente em ruínas, situado na Marechal Floriano, 520. (Foto: Jorge Luís Stocker Jr./2009)
Quem passeia pelas ruas do centro de Porto Alegre com um olhar mais atento, depara-se com uma riqueza arquitetônica ímpar. São várias as características que identificam a arquitetura da cidade, formando um conjunto rico e heterogêneo que abrange as mais variadas manifestações arquitetônicas.
No perímetro central, a quantidade de bens tombados é, para padrões brasileiros, até considerável; estando muitos deles ocupados por centros culturais, museus, e outras instituições públicas. Mas além destes exemplares já reconhecidos do patrimônio cultural, existem centenas de edificações interessantes que merecem um olhar mais acurado e um estudo aprofundado de sua história.
Reconhecendo a diversidade desta riqueza, o poder público municipal de Porto Alegre recentemente rebatizou o bairro, alterando sua denominação para "CENTRO HISTÓRICO".
Detalhe do Palacete Amália Barcelos, projetado pelo Arq. Ricardo Wriedt em 1921. Situa-se na esquina da Duque de Caxias comVigário José Inácio. (Foto: Jorge Luís Stocker Jr/2009)
Toda esta riqueza, supõe-se, estaria sendo valorizada através do reconhecimento como "Centro Histórico" da cidade. Assumindo a condição de um sítio histórico, o bairro deveria por consequência (e bom senso) ser urgentemente submetido a um extenso levantamento e pesquisa; resultando em um inventário e mapeamento digital completo - de preferência, procedido por profissionais com amplos conhecimentos na área e sem vínculos políticos. Um estudo que levasse em consideração as recentes descobertas das pesquisas acadêmicas, contemplando não apenas os remanescentes ecléticos, mas os tantos exemplares proto-modernos e modernistas que trazem peculiaridades e que definitivamente fazem parte da paisagem porto-alegrense.
No entanto, o que verificamos no dia-a-dia é justamente, o desprezo do poder público e a conivência da sociedade com a destruição ou desfiguração de importantes componentes do conjunto histórico. Tão celebrado e "vendido" aos turistas, o centro vai se tornando cada vez menos "histórico".
Deformação na Rua da Praia
Um recente caso aconteceu a um exemplar eclético da Rua da Praia, uma das vias públicas mais relevantes da cidade (e a mais emblemática durante a vigência do estilo eclético).
Vista da rua da Praia com o prédio antes de sua modificação. (foto cedida pelo forista Minuano/Skyscrapercity Brasil)
Prédio durante as obras, respeitando a legislação e critérios de segurança. Tudo "dentro da lei"(foto cedida pelo forista Minuano/Skyscrapercity Brasil)
O assombroso é que esta descaracterização se deu às claras, e sob o rigor da "lei": teria sido aprovada pelo setor competente. Oficializa-se, assim, mais um caso típico, onde estes lamentáveis ataques contra o patrimônio cultural são cometidos com a conivência e aprovação do poder público - constitucionalmente responsável por sua conservação e zelo.Fica no ar, então, uma série de dúvidas. A primeira delas, é quanto a própria denominação de "CENTRO HISTÓRICO", visto que a desfiguração deste exemplar demonstra uma séria contradição a tal denominação.
A situação atual do prédio, completamente desfigurado.(foto cedida pelo forista Minuano/Skyscrapercity Brasil)
Uma edificação eclética, integrante do conjunto que caracteriza o Centro Histórico de Porto Alegre, tornou-se mais um exemplar qualquer, rotineiro, desprovido de qualquer valor, interesse ou significado; graças a conivência do poder público.
Estaria este prédio arrolado no inventário recentemente atualizado do centro? Caso estivesse, por que a modificação não foi barrada pelo poder público? Se não integrava a listagem, qual o critério adotado pelo poder público para a seleção das edificações? E qual, afinal, o tratamento que está sendo dispensado a este inventário - que importância está se atribuindo a este importante levantamento? Esta demolição foi aprovada pela comissão do patrimônio cultural?
Retrato do "abandono moral" do centro histórico. (Foto: Jorge Luís Stocker Jr/2010)
É visível que a visão de patrimônio histórico limitado apenas aos bens tombados e desapropriados pelo poder público; constituindo pequenas ilhas ou "pontos de interesse" espalhados pela cidade, não é saudável para a compreensão do bairro como um todo, um conjunto (não apenas histórico, mas um "conjunto" de edificações que realmente faça sentido através de suas formas e usos).Um retrato ineficiência desta visão se manifesta mesmo em bens tombados, mas de propriedade particular. Na rua Riachuelo: um dos últimos exemplares coloniais sucumbe e, apesar de estar tombado há décadas, não verifica-se iniciativas no sentido de valorizá-lo aos olhos da população, quanto menos, de recuperar sua integridade e sua utilidade.
Casa Ferreira de Azevedo: tombada, mas completamente abandonada e desfigurada, próxima a Igreja Nossa Senhora das Dores, na Rua Riachuelo. (foto: Jorge Luís Stocker Jr./2008)
Que tipo de centro histórico Porto Alegre merece, afinal?
Leia também:
- Link sobre a Casa Ferreira de Azevedo na Wikipedia;
- Veja o que já escrevemos sobre a importância de preservar o patrimônio cultural no meio urbano;
- Nosso artigo sobre a desfiguração do legado modernista de Porto Alegre;
- Livro: Arquitetura Erudita da Imigração Alemã no RS - Günter Weimer (fonte das informações das imagens 01 e 02)
e o pior de tudo é que a "reforma" só serviu para deixar o prédio mil vezes mais feio!
ResponderExcluirque triste!
Lamentável essa situação. O exemplo do prédio cuja fachada foi "deformada" é patético.
ResponderExcluirImagino que, se deixassem,o proprietário eliminaria também o belo poste de iluminação e o trocaria por um desses horríveis holofotes modernos.
E isso se repete por toda parte, acho que a questão é cultural mesmo. É preciso investir na educação antes de tudo e, infelizmente, essa nunca foi prioridade de nenhum governo...
Engraçado, parece que as iniciativas vem em ondas. Há uns cinco anos atrás parece que veio uma "onda boa", me lembro de boas restaurações, finalmente as mentalidades parece que tinham mudado.
ResponderExcluirMas parece que agora veio uma onda ruim, e temos notícias de destruições absurdas por toda parte. Deve ter a ver com o pré sal, fim da crise financeira e tudo mais.
Transparece que não há consciência. O que acontece é a presença ou não de dinheiro. Infelizmente.
Triste fato, essa de mudarem o prédio foi o golpe mais baixo possível, lamentável!
ResponderExcluirTudo dentro da lei, impressionante quem autorizou uma coisas dessas? Os mesmos que autorizaram a desconfiguração do Cemitério São José de Porto Alegre?
ResponderExcluirTeu blog é muito bom, parabéns!
Luiza.
Concordo com a Juliana: ficou muito feio! O pior de tudo é o silêncio dos responsáveis pela destruição da memória da cidade. Parabéns pelo trabalho, Jorge!
ResponderExcluirEste,se observarem,é só uma parte do retrato da personalidade de nós gaúchos, que na grande maioria não preservam,nem fotografias,videos,filmes,etc...cadê por exemplo o vasto acervo da tv piratini,primeira tv dos gaúchos?...é lamentável,o que fazem com estes antigos prédios,históricos. J
ResponderExcluirPovo sem memória é...Povinho!
ResponderExcluirPovo sem memória é... Povinho!
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